A Palo Seco - N.16

MODOS DO CÔMICO

Frases cômicas na Literatura
Profa. Dra. Jacqueline Ramos

CÔMICO e CONHECIMENTO - 2021

Sobre o cômico na literatura brasileira modernista
Profa. Dra. Jacqueline Ramos

Você tem notícia do latim?

A tese "Dois tempos da cultura escrita em latim no Brasil: o tempo da conservação e o tempo da produção • discursos, práticas, representações, proposta metodológica" do prof. José Amarante Sobrinho, recebeu o Prêmio Capes de Teses 2014 - Letras e Linguística

A Palo Seco, Ano 1, N. 1, 2009
Escritos de Filosofia e Literatura "Espelhos: Rosa/Machado"


CONSELHO EDITORIAL
Celso Donizete Cruz
Cícero Cunha Bezerra
Eduardo Gomes de Siqueira
Fabian Jorge Piñeyro
Jacqueline Ramos
Luciene Lages Silva
Maria Cristina Blink
Oliver Tolle
Romero Junior Venancio Silva
Sílvia Faustino

EDITORIA
Celso Donizete Cruz
Cícero Cunha Bezerra
Eduardo Gomes de Siqueira
Jacqueline Ramos

PAGINAÇÃO
Celso Donizete Cruz

REVISÃO
Maria Cristina Blink


Sumário

Apresentação

Eduardo Gomes

O Canto do Olho

O espelho • oconceito. Dois Espelhos • as obras.

Alguns olhares • especulações.

As palavras trazem à re-visão o (sentidodo)espelho.

Olhares solares. Olhares cavernosos. Olhares arredios. Espiadelas atrevidas. Olhares falados. Olhares fados.O canto do olhoesgueira. O canto doolho.

O olhar compenetrado • que bate na superfície violada do espelho e volta refratado. O olhar agudo •queadentra o salão firme e falante e enfim se retrai, mudo. Olhares que se convertem em falares que se divertem em ouvires • e agora em legíveis. O espelho é o conceito • abstrato e invisível • cujo ser é refletir. Os Espelhos são as obras de arte • nas quais o ser do espelho é re-fletido. As palavras são os espelhos que refletem a reflexão sobre o espelho. A literatura pensa a realidade. E a não realidade. A filosofia pensa a realidade pensada pela literatura e o modo da literatura pensar a realidade (e a não realidade). A filosofia diz o que pensa.A literatura/atura, e conjectura: mas é nas letras que a filosofiaatua; ora, é também com as letras que a filosofia se compõe.

Primeira razão de ser desse encontro provocado: as humanidades têm tido dificuldade de conversar. O que não é espelho é feio. Não é igual a mim? É erro. Querem converter a filosofia em um ramo da literatura. Ou querem converter a literatura em um modo da filosofia. Querem converTER, não querem conver-SAR. Pois invadimos a galope o frágil salão de espelhos, e queremos conversar. Há aqui uma aposta. Talvez uma tese. Quem sabe, apenas uma boa hipótese por ser explorada: literatura & filosofia são o coração(a sístole e a diástole) das humanidades • e não adianta perguntar quem é que puxa e quem é que empurra: o músculo que dilata é o mesmo que se contrai.

Esta edição de A Palo Seco reúne a maior parte dos textos do "I Colóquio Filosofia e Literatura" realizado na UFS em dezembro de 2008 e quer se apresentar como primeiro passo de concreção de uma intenção há muito acalentada por um grupo de professores/pesquisadores que descobriram possuir uma preocupação e um interesse em comum: reconhecer e cultivar nossa dependência mútua. Queremos assim abrir espaço para indicar uma direção a fim de colocarmos juntos uma "boa questão": se filosofia e literatura são mesmo o coração das humanidades, então quais são as interfaces pertinentes pelas quais essas distintas áreas do conhecimento se complementam, contrastando-se? E mais: que conseqüências, para nossa atuação prática em humanidades, uma aproximaçãoprofícua entre essas áreas permite extrair?

GeFeLit (Grupo de Estudos em Filosofia e Literatura CNPq/CECH/UFS) é o nome desse espaço, ao qual esta publicação quer dar visibilidade. Como fórum de discussão sobre as in t er f a c e s possíveis (linha de pesquisa 1) bem como das c onseqüência s prático-pedagógicas extraíveis (linha de pesquisa 2) das relações entre filosofia e literatura, o GeFeLit convoca à congregação conflitante todos os interessados nas potencialidades dessa conjunção para o fortalecimento do cultivo do mundo das letras e dos conceitos, entidades básicas sem as quais as humanidades dificilmente poderiam pretender se reconhecer como tais.

O exercício conversacional aqui publicado, valendo-se da notável efeméride dupla, elegeu dois marcos das nossas letras como campo de prova para a abertura dessa possibilidade exploratória. A passagem, há cem anos, do bastão literário de Machado de Assis para Guimarães Rosa é a ocasião para chamarmos a um debate que discute não apenas a relação da (nossa) literatura com a (nossa) realidade, não apenas a relação da literatura com o pensamento e o conhecimento, não apenas a relação entre a realidade e o espelho ou entre O espelho de Machado e o de Rosa, nem apenas as relações entre filosofia e literatura na busca do auto-conhecimento e do conhecimento-do-mundo, mas todos esses aspectos conjuntos, sem esquecer, porém, que eles não se podem pretender mais do que realmente são: justamente aspectos, pontos-de-vista, perspectivas discordantes e complementares sobre relações cultivadas há milênios.

A apresentação dos textos escritos não segue exatamente a ordem dos textos apresentados oralmente durante o Colóquio. Este foi concebido como um exercício de espelhamento d"Os Espelhos, ora com ênfase maior para a literatura, ora para a filosofia • ora de maneira que as fronteiras parecem se dissolver. Afinal a questão dos limites entre filosofia e literatura constitui para nós antes um grave problema a ser investi- gado, e não algo que se tenha dado como já solucionado. São exercícios de olhares diversos sobre os mesmos objetos artísticos que visam destacar o enriquecimento que o cruzamento dos olhares permite pretender.

Bem, se na apresentação oral começamos com o Espelho-Machado, passando pelo Espelho-Rosa, para enfim colocarmos um contra o outro, no espelhamento escrito a ordem foi invertida: com "Perdido nos espelhos", o prof. Celso Donizete Cruz abre os trabalhos traçando, ao mesmo tempo em que problematiza o traçado, algumas pontes básicas para a aproximação cuidadosa das duas obras, tomando as medidas das bases da comparação e dando início ao "descascar da cebola" em busca do (ir)refletido. O prof. Eduardo Gomes, a seguir, procura incrementar o traçado acompanhando, "Como Alice através do espelho", uma problemática comum à filosofia e à literatura, a da "dizibilidade do real", justapondo aos espelhos literários de Rosa e Machado os espelhos filosóficos de Wittgenstein e Kierkegaard, destacando o cuidado literário da composição filosófica quando esta se impõe alvos éticos irrealizáveis através da comunicação direta.

No segundo bloco a ênfase se volta para estudos sobre o Espelho de Rosa, com três artigos que ressaltam aspectos distintos de sua elaboração filosófico-literária: a prof.a Sílvia Faustino apresenta um estudo articulado como esboço de uma "Poética do espelho" • que coloca Rosa "entre o niilismo e a esperança" • diagnosticando assim uma demanda de nossa representação literária, e brindando-nos com uma bela análise do estudo roseano de o que é isso um espelho? ou, mais especialmente, de seus "modus de focar" e das "três visões" que o articulam. A profa. Jacqueline Ramos, por sua vez, aborda este Espelho de forma distinta em "A vereda especular de Rosa", situando sua tessitura lingüística peculiar e o modo como Rosa cultiva o poder da palavra: localizando o próprio conto em sua posição estratégica no livro que o apresenta, aqui descobrimos que o espelho de Rosa é, na verdade, uma parábase, recurso típico da comédia antiga no qual o coro avança em direção aos espectadores e declama os versos olhando para eles. Outros sentidos do espelho se descortinam nessa perspectiva, enfatizando o fazer literário como assunto dessa literatura. E, como neste conto um Rosa parabático parece se dirigir a nós com suas insistentes perguntas ("chegamos a existir?"), encerrando o bloco temos a sugestiva res-posta do prof. Cícero Cunha Bezerra, investido como seu destinatário, ao incansável inquiridor roseano. Resposta filosófico-literária, espelhada, a um texto literário-filosófico, sua "Carta a Guimarães Rosa", além de ser um exercício philo-poiético (tal como sugeriu Platão) que esgarça as formas do dizer filosófico, traz ainda um importante conjunto de referências que mostram a importância da leitura filosófica na formação do autor: as imagens roseanas e suas fontes no misticismo neoplatônico (por exemplo, do "ignorar-se a si mesmo" e do ser "travessia" entre o ser e o nada • de Plotino; o "olhar não vendo", o "nascimento abissal", assim como a "luzinha" e o ser "nonada" • de Mestre Eckhart).

No terceiro bloco, sobre o Espelho de Machado, a fim de não redundar uma fortuna literária já bastante estendida, e uma vez que visões sobre Machado estão presentes como ponto e como contraponto nos artigos anteriores, privilegiamos três textos que abordam nosso autor máximo em três aspectos específicos. Um é o texto do prof. Márcio Gimenes de Paula sobre tema bem desenvolvido, o uso filosófico da ironia em Machado de Assis, mas voltado especialmente para o caso de O espelhoesboço de uma teoria da alma humana. Acompanhando esse desmontar dos esquemas de construção da ironia em Machado (onde está, exatamente, a ironia das "duas almas"?), vislumbramos também a temática filosófica contraída em suas cápsulas literárias, a começar pelo nome do personagem ("Jacobina"), pelo contraste de traços empiristas e anti-românticos do contexto e ainda pela temática hegeliana da "dialética do senhor x escravo" na "solução" do problema ficcional, bem como na sugestão de estudar as formas do desespero machadiano em chave kierkegaardiana. Por outro lado temos no texto da prof.a Luciene Lages o exercício de outro modo de espelhar O espelho buscando explorar analogias entre o sentido do espelho na literatura e na pintura (uma vez que "Ut pictura poesis", como sugeriu Horácio), e mais especialmente entre "O espelho de Machado e os espelhamentos de Magritte" (nos casos de Reprodução proibida, O espelho falso e A condição humana I). Complementando esse bloco, o artigo do graduando em filosofia Luis Carlos Gomes Jr destoa dos restantes por não ter como tema o conto O espelho, mas o romance Dom Casmurro. Sua inclusão aqui se justifica, por um lado, porque podemos entender Bentinho-Dom Casmurro como projeção ampliada (e otheliana) de Joãozinho-Jacobina; mas principalmente, por outro lado, porque o artigo, apresentado originalmente na forma de minicurso, é um exercício de problematização epistemológica de um texto literário, exemplificando uma das interfaces possíveis entre as áreas. Ao invés de perguntar se é verdade que "p" ("Capitu traiu Bentinho"), a boa pergunta é: "Bentinho estava justificado em acreditar que Capitu o traiu?". E o exame das evidências e contra-evidências apresentadas pelo próprio texto nos leva a crer que não, de acordo com o balanço apresentado. O artigo mostra um tipo de conseqüência pedagógica que se pode extrair de um trabalho interdisciplinar efetivo articulando filosofia e literatura.

O itinerário reflete perspectivas. Problemas diferentes a cada visada. Quer dizer que, apesar dos tantos colapsos, ataques e fibrilações, ainda pulsa o coração das humanidades.

Eduardo Gomes, de Atalaia, não de Boa Vista, julho de 2009



4

Perdido nos espelhos

Celso Donizete Cruz

Núcleo de Letras/UFS-Itabaiana



7

Como Alice através dos espelhos • o problema da dizibilidade do real

Eduardo Gomes de Siqueira

Departamento de Filosofia/UFS



15

A poética do espelho: G. Rosa entre o niilismo e a esperança

Sílvia Faustino

Departamento de Filosofia/UFBA



27

A vereda especular de Rosa

Jacqueline Ramos

Núcleo de Letras/UFS-Itabaiana



35

Carta a Guimarães Rosa

Cícero Cunha Bezerra

Departamento de Filosofia/UFS



42

A ironia filosófica de Machado de Assis em "O espelho"

Márcio Gimenes de Paula

Departamento de Filosofia/UFS



46

O espelho de Machado e os espelhamentos de Magritte

Luciene Lages Silva

Departamento de Letras/UFBA



50

Uma análise do conhecimento casmurro

Luiz Carlos Gomes Jr

Graduação em Filosofia/UFS



55

Bases indexadoras:

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