A Palo Seco - N.16

MODOS DO CÔMICO

Frases cômicas na Literatura
Profa. Dra. Jacqueline Ramos

CÔMICO e CONHECIMENTO - 2021

Sobre o cômico na literatura brasileira modernista
Profa. Dra. Jacqueline Ramos

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A tese "Dois tempos da cultura escrita em latim no Brasil: o tempo da conservação e o tempo da produção • discursos, práticas, representações, proposta metodológica" do prof. José Amarante Sobrinho, recebeu o Prêmio Capes de Teses 2014 - Letras e Linguística

Blog GeFeLit - Artigo


A vida surreal de um escritor surrealista

História e Ironia

A vida surreal de um escritor surrealista

Felisberto Hernández • quando a vida imita a arte

Fabian Jorge Piñeyro

7/mar/18, 11:36h


Em 1947, o pianista e escritor uruguaio Felisberto Hernández foi apresentado no Pen Club de Paris. Finalizadas as formalidades, aproximou-se uma espanhola de olhos pretos que lhe expressou sua admiração e impactou por completo a memória curta de Felisberto; a essa altura com 45 anos, dois filhos e dois divórcios.

África Las Heras (Pátria) ou Maria Pavlovna

África Las Heras, ou Pátria, ou Maria Pavlovna, era membro dos serviços secretos soviéticos. Tinha estado na Guerra Civil espanhola, tinha saltado de paraquedas, na II Guerra e tinha participado na trama do assassinato de Trotsky, no México.

Agora, sua missão era coordenar uma rede de espiões soviéticos na América do Sul. O centro de operações seria Montevidéu. A peça principal da camuflagem, um escritor que passaria quatro meses em Paris, graças a uma bolsa de estudos, ao qual ela encararia na noite da sua apresentação no Pen Club.

Felisberto era a pessoa adequada por várias razões: residia na cidade escolhida, era uma pessoas com chegada na elite uruguaia e, não menos importante, era um intelectual reconhecido que não perdia oportunidade de badalar seu anticomunismo, coisa que aos olhos dos espiões tornava mais sólida a trabalhada cortina de fumaça que encobriria sua espiã.

África e Felisberto casaram em 1949. Ela rapidamente foi reconhecida no círculo do escritor como uma mulher discreta e que amava as crianças. Os amigos do matrimônio, inclusive, não demoraram em somar à admiração que tinham por ela a compaixão, pois Felisberto, depois de casado, tinha se convertido numa máquina de incorporar quilos e manias e todos viam que a vida a seu lado se tornava insuportável.

Por isso ninguém se estranhou quando, em apenas dois anos, o matrimônio chegou ao fim. África, já com a cidadania uruguaia, já entremeada na malha de relações de felisberto, casou com um italiano, colega da KGB, e morou ainda 20 anos em Montevidéu, sem ser descoberta.

Las Hortensias y otros contos

Quando conheceu África, Felisberto lhe dedicou o conto "As Hortênsias". O relato de estranho triângulo amoroso entre Horácio, sua esposa Maria Hortênsia e uma boneca de tamanho natural também chamada Hortênsia.

No início o casal faz jogos teatrais com a boneca mas, ao cabo de um tempo, as exigências de Horácio vão se tornando mais perigosas. Manda insertar um circuito de água quente no interior de Hortênsia para sentir seu calor humano, pede para Facundo, seu construtor de bonecas, que crie uma pele menos dura e um dia decide fazer “operar” sua boneca com a intenção de erotizar seu corpo.

É então quando Maria Hortênsia esfaqueia Hortênsia e abandona o lar. Horácio manda construir uma substituta, Eulalia. E logo depois da primeira janta com sua nova boneca erótica, mantém com o seguinte diálogo com seu criado, que é nada menos que russo:

“O que achas desta, Alex?”

“Muito bonita, senhor. Parece muito com uma espiã que conheci na guerra.”

Maria Pavlovna

Felisberto morreu, em 1967, achando que sua terceira mulher era modista, sem saber que seu terceiro matrimônio tinha sido uma trama urdida por uma organização que muito bem poderia ter existido num de seus contos, sem saber que o partido que sustentava a nível internacional essa ideologia que ele tanto odiava tinha inventado uma parte importante da sua vida.

África, durante vinte anos, recebeu todos os agentes secretos soviéticos que atuaram na Argentina, Chile ou Brasil. Encarregou-se de seus papéis, de repassar as primeiras informações e de dar as primeiras dicas. Em 1969, depois da morte de seu marido italiano – da qual foi acusada –, voltou para Moscou. Ali foi ascendida a coronel e dedicou o resto da vida à docência na escola de formação de agentes secretos.

Morreu em 1988, com quase 80 anos.


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