CONSELHO EDITORIAL
Carlos Eduardo Japiassú de Queiroz
Dominique M. P. G. Boxus
Fabian Jorge Piñeyro
Jacqueline Ramos
José Amarante Santos Sobrinho
Luciene Lages Silva
Maria Aparecida Antunes de Macedo
Maria Rosineide Santana dos Santos
Oliver Tolle
Romero Junior Venancio Silva
Tarik de Athayde Prata
Ulisses Neves Rafael
EDITORIA e PREPARAÇÃO DOS ORIGINAIS
Jacqueline Ramos
Luciene Lages Silva
Maria A. A. de Macedo
CAPA José Amarante Santos Sobrinho
PAGINAÇÃO e REVISÃO TÉCNICA Julio Gomes de Siqueira
Publicado em: 10/12/2014
Sumário
Apresentação
4
Apresentação
Jacqueline Ramos
Artigos
7
Prazeres e dores da estátua: nota sobre aspectos literários e filosóficos da ficção condillaciana
Carlota Ibertis – Filosofia/UFBA
Resumo:
No Tratado das sensações, Condillac se serve da ficção de uma estátua para defender que tanto ideias quanto faculdades mentais derivam das sensações. O objetivo do artigo é apresentar essa ficção a partir de um trecho do texto de Borges “Dos Animales metafísicos” de El libro de los seres imaginarios, que sintetiza o espírito do texto condillaciano, salientando alguns aspectos literários do texto original como, por exemplo, a aproximação, embora limitada, com a estátua de Pigmalião na versão de Ovídio e nas de Boureau-Deslandes e Rousseau bem como os aspectos filosóficos para uma concepção da subjetividade em que o prazer funciona como princípio do desenvolvimento mental.
Palavras-chave: Iluminismo. Prazer. Sensação.
19
Heidegger e Guimarães Rosa: mundo, espacialidade e poesia em dois contos de corpo de baile
Rodrigo Michell dos Santos Araujo – Mestre em Letras/UFS
Resumo:
Este artigo investiga em dois contos de Corpo de Baile, de João Guimarães Rosa, “O recado do morro” e “Cara-de-Bronze” – ambos pertencentes ao volume No Urubuquaquá, no Pinhém (1969) – o problema do mundo, da espacialidade e o lugar da poesia no horizonte da ontologia fundamental do filósofo alemão Martin Heidegger. A investigação divide-se em duas partes(i) a partir da obra capital Ser e tempo (2011a) e de algumas preleções de 1928 a 1930, como também da década de 1950, trazer para o centro do espaço intervalar entre filosofia e literatura os conceitos de mundo e espaço de Heidegger, bem como a ligação ontológica do ser-aí com a espacialidade – essa própria etapa da investigação justifica ela mesma a sua contribuição para a teoria e crítica literárias, no que concerne a uma teoria do espaço; (ii) examinar o lugar da poesia nos contosseu efeito (primeiro conto) e sua essência (segundo conto). Neste segundo momento, ao nos apropriarmos de um Heidegger tardio interessado na questão da arte, especialmente na poesia de Hölderlin, sublinhamos o caráter essencial da poesia, para o pensador alemãofundação (do ser), abertura do mundo, deixar-habitar. Nosso argumento é que entre Heidegger e Guimarães Rosa, o que está em jogo nos contos selecionados é a compreensão da poesia como experiência. Entre o pensador da Floresta Negra e o autor mineiro consolidamos o encontro poesia e mundo, poesia e experiência.
Palavras-chave: Guimarães Rosa. Mundo. Espaço.
36
Esthétique de l’excès et excès de l’esthétique
Camille Dumoulié – Université Paris Ouest-Nanterre-La Défense
Résumé:
Alors que la philosophie, pour des raisons éthiques et ontologiques, exclut l’excès de l’humain, la littérature révèle qu’il est inscrit dans l’essence de l’être parlant. Une forme d’excès est à l’origine de l’inspiration créatrice. De l’épopée à la tragédie et au roman moderne, la littérature met en scène des personnages excessifs. Cela n’implique pas, pour autant, que toute poétique soit expression de la démesure, même s’il existe bien une esthétique de l’excès. Néanmoins, l’esthétique en tant que telle, ainsi que Baumgarten l’a définie au XVIIIe siècle, a pour objet spécifique un réel en excès que la raison et la connaissance logique ne peuvent que dénier.
Mots clés: Esthétique. Littérature. Réel. Exccès.
46
Estética do excesso e excesso da estética: Camille Dumoulié
Traduçao: Maria A. A. de Macedo – Letras/UFS
Resumo:
Enquanto a filosofia, por razões éticas e ontológicas, exclui o excesso do humano, a literatura revela que ele está inscrito na essência do ser falante. Uma forma de excesso está na origem da inspiração criativa. Da epopeia à tragédia e ao romance moderno, a literatura coloca em cena personagens excessivos. Esse fato não implica, no entanto, que toda poética seja a expressão da desmedida, mesmo se exista, certamente, uma estética do excesso. Entretanto, a estética enquanto tal, assim como Baumgarten a define no século XVIII, tem por objeto um real em excesso que a razão e o conhecimento lógico não podem senão recusar.
Palavras-chave: Estética. Literatura. Real. Excesso.
56
Moderação e paideia na cidade ideal: Platão contraria a poesia na república?
Felipe Gustavo S. da Silva – Mestrando em Filosofia/UFPE
Resumo:
Este trabalho tem como objetivo analisar a natureza da poesia, via literária, sob o viés da proposta platônica na República. Na Paideia grega, o elemento da moderação aparece como fundamental nas ações a serem desenvolvidas pelo homem tanto no meio social quanto no restrito. Este elemento é objeto presente na República platônica, em que temos a oportunidade de verificar a importância de uma educação que visasse à moderação para a formação de uma cidade ideal, edificada pelo homem virtuoso. Mais especificamente, iremos tratar neste trabalho, como Sócrates sugere que deve conduzir-se a educação dos guardiões na República, e quais elementos seguir ou rejeitar nessa formação – destacando aqui o ideal da moderação e a proposta de “expulsar” a poesia mimética da cidade, conforme descrito no livro III e X. É nosso interesse analisar a educação proposta aos guardiões da cidade ideal como um apelo platônico à moderação. Neste trabalho, pretendemos responder a perguntaPor que Platão despreza a poesia? O que ela tem a ver com a moderação e com a educação dos guardiões? A partir disso, pretendemos justificar o porquê de Platão adotar seu posicionamento frente ao processo educativo dos guardiões da cidade. Propomos uma leitura a partir do conceito de moderação, o que nos leva a concordar com o autor que, de fato, no contexto antigo, parece realmente necessário banir a poesia, devido ao fato dela incitar veementemente as partes mais baixas da alma, “alimentando” elementos da alma que deveriam ser controlados visando a Virtude. Ademais, é nosso interesse demonstrar que Platão não contraria a literatura sob véu poético mas apenas seleciona o modo e indica o caminho pedagógico para que, através da moderação, possa-se chegar à excelência.
Palavras-chave: Poesia. Moderação. Educação.
64
Hilda Hilst ou por uma poética do desejo. Algumas notas
Márcia Fontes – Mestre em Filosofia/UNICAMP Romero Venâncio – Filosofia/UFS
Resumo:
Para discutir o debate poético na obra de Hilda Hilst, efetuaremos um breve percurso pelos poemas que compõem o livro Do Desejo, seguindo por uma, dentre as tantas possíveis, interpretação que nos servirá de guiaa de que esta composição descreve a relutância da poetisa, sua revelia perante o Nadadestino e condenação da existência.
Palavras-chave: Hilda Hilst. Poética do desejo. Nada.
74
O latim na literatura brasileira: enfeitar, impressionar, ridicularizar
José Amarante Santos Sobrinho – Letras/UFBA
Resumo:
Decorrente das atividades de pesquisa desenvolvidas a partir do projeto Em busca de fontes para uma história social do latim no Brasil, este artigo apresenta algumas discussões em torno dos usos do latim na literatura brasileira, principalmente, e das representações, muitas vezes em tom cômico, que esses usos estabelecem. Assim, em algumas cenas, passeamos por momentos e por autores de nossa literatura, em especial por obras de Gregório de Matos e de Machado de Assis, observando que, muitas vezes, os usos do latim em nossas terras e em nossa literatura terminam por funcionar como formas de enfeitar, impressionar ou ridicularizar.
Palavras-chave: Latim no Brasil. Literatura brasileira. Gregório de Matos. Machado de Assis.
86
O riso pícaro: entre a denúncia, a lição e a mera diversão
Leonor Demétrio da Silva – Mestre em Letras/UFS
Resumo:
O romance picaresco sempre esteve adscrito aos gêneros cômicos. Seu protagonista pícaro, trapaceiro e fingidor fez dessa tradição literária um terreno fértil no campo da comicidade. O personagem, amiúde associado ao bobo da corte medieval, será o alvo da gargalhada do leitor. Sua posição baixa na sociedade, assim como suas aspirações de nobreza em um momento histórico em que o sistema feudal estamental tentava sobreviver, tornou sua missão em uma tarefa difícil e cheia de incidentes de caráter cômico. Através do presente artigo, procuraremos discutir como o humor festivo popular carnavalesco, assim como o humor desapiedado da sátira moderna estiveram sempre presentes nesse tipo de romance. Sua função oscilará entre denunciar os movimentos sociais que o incipiente capitalismo do Barroco espanhol começava a permitir, dar lições de moral aos indivíduos que ousavam quebrar a ordem social e divertir o público que censurava tal atrevimento.