A Palo Seco
Ano 15, N° 17 (jul-dez/2023)
O cômico na Literatura Brasileira
Jacqueline Ramos
2008 ➭ 2009
GRACEJO OU CÔMICO INOCENTE
CÔMICO e CONHECIMENTO - 2021
Você tem notícia do latim?

Prêmio Capes de Teses 2014 - Letras e Linguística

Grupo de estudos em Filosofia e Literatura

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Universidade Federal de Sergipe - UFS

Projeto de Jacqueline Ramos


Personagens cômicas na literatura brasileira do século XX

Coordenação:

Jacqueline Ramos

Período de vigência:

2014 ➭ 2015

Descrição:

Nossos estudos anteriores, que se ocuparam de um mapeamento preliminar dos modos e formas do cômico na literatura brasileira, deram a ver dois grandes momentos de significativa produção literária cômica: nosso romantismo do início do século XIX, cuja tradição das comédias de costume se estende até o realismo, e nosso modernismo que se abre para as inúmeras possibilidades da comicidade. Justamente por essa característica, a de explorar a potencialidade expressiva das formas cômicas, nossa literatura modernista é um fecundo terreno para o estudo teórico sobre a comicidade. No século XX, a comicidade se faz presente em vários âmbitos, seja no cômico de situação (centrado no enredo), seja no de palavras (duplo sentido, trocadilho, paródia etc.), seja na presença de personagens típicas. Diante dessa constatação, nossa ênfase agora será o estudo analítico (e não histórico como anteriormente) haja vista a oportunidade do estudo específico desses modos e formas do cômico. Assim sendo, iniciaremos pelo estudo das personagens típicas do cômico – bêbados, loucos, palhaços, crianças, bobos ou inocente, malandros ou pícaros – já que implicam nas demais formas (de situação e de palavras). Sob o ponto de vista teórico, cada tipo cômico solicita uma tradição filosófico-literária. A loucura, por exemplo, aparece muitas vezes associada à sabedoria, o que já foi polemizado na antiguidade: Hipócrates teria sido convocado para diagnosticar Demócrito, o filósofo que ria de tudo e por isso estaria sendo tomado como louco. E não seria a embriaguez uma loucura temporária? Para Freud a embriaguez e o chiste cumprem uma mesma função de desrecalque. Sob o efeito do álcool neutralizaríamos a ação do superego, abrindo caminho à realização do desejado ou às possibilidades vetadas socialmente. O chiste por sua vez, permite o acesso a conteúdos proibidos ou reprimidos e inconscientes. Ao nos revelar perspectivas inusitadas, louco e bêbado se aproximam. E que limite estabelecer entre o bêbado e o bobo? Ambos, aliás, guardam muito da inocência infantil. Inocência que também é identificada no "louco" D. Quixote. Enfim, os limites entre essas categorias de personagens são frágeis, quando muito poderíamos falar em ênfase. O denominador comum entre eles é o da revelação, proporcionada por uma perspectiva inusitada sobre a realidade. Nessa capacidade de desvelamento, de estar sempre mostrando uma possibilidade que foge ao padrão normal, encontra-se o interesse filosófico. Ainda, a comicidade está sempre alertando para o jogo da linguagem, seu caráter capcioso, e para a impossibilidade de dizer a realidade. É essa função da comicidade que atraiu pensadores como Kiekergaart, para quem o cômico não destrói, mas permite experimentar valores; Nietzsche ou Wittegenstein que percebem o limite do pensamento sério, já que só a comicidade englobaria o que a razão não abarca.