Projeto de Jacqueline Ramos
Cômico e conhecimento: sobre o cômico na literatura brasileira modernista |
Coordenação: Jacqueline Ramos
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Período de vigência: 2016 ➭ atual |
Descrição:
Os estudos prospectivos que fizemos até o momento acerca do cômico na literatura brasileira permitem afirmar que três tradições do cômico penetraram em nossa cultura durante o século XIX: a comédia de costumes, que se destaca em produção e pelo amplo sucesso de público; a picaresca, com o caso isolado de Memórias de um sargento de milícias, de Manoel Antonio de Almeida; e a sátira menipéia com Machado de Assis. No caso do século XX, podemos dizer que o risível nas obras literárias se alimenta dessas três vertentes, às vezes numa dissolução de suas fronteiras como no caso de Macunaíma, às vezes na cristalização de um gênero a exemplo do teatro de revista ou em distintas atualizações como nos romances que Gonzalez (1994) denominou de neopicaresca. No século XX, de um modo geral, percebe-se que a comicidade é amplamente explorada em suas Inúmeras funções e procedimentos: seja no cômico de situação (centrado no enredo), seja no de palavras (duplo sentido, trocadilho, Inversões etc.), seja na presença de personagens típicas (bêbados, loucos, palhaços, crianças, bobos ou Inocentes, malandros ou pícaros etc.), seja na ridicularização que agride, no drible à censura que liberta ou na perspectiva filosófica do conhecer. Diante dessa ampla penetração do cômico, centramos nossa proposta nas relações entre o cômico e o conhecimento a partir do estudo de obras de dois autores de nosso terceiro momento modernista, a saber Clarice Lispector e José Cândido de Carvalho. Numa aproximação preliminar já identificamos algumas obras e/ou textos desses autores que nos remetem a esse viés cômico, preferimos, entretanto, estabelecer o corpus definitivamente, depois de uma análise mais acurada de suas obras. Contemporâneos de Guimarães Rosa, a escolha de Lispector e Carvalho se dá justamente porque eles utilizam o risível na construção de perspectivas Inusitadas e reveladoras de aspectos escamoteados pela cultura, aproximando-os nesse aspecto daquele cômico defendido por Rosa em Tutaméia com o qual já nos ocupamos (RAMOS, 2009).